Foram exatamente 3 anos, quase a fazer aniversário no dia da volta. Cheguei em Londrina num domingo chuvoso do mês de abril. O táxi percorria às ruas vazias, alguém muito especial estava ao meu lado no carro e apontava alguns lugares. Eu estava assustada com áquelas ruas completamente vazias. Algo bateu dentro de mim, algo como uma solidão profunda, sensação essa que me recebeu e me acompanhou por todo tempo que lá estive. Aquela noite só estava começando, eram mais ou menos 20h.
Alguns amigos moravam e ainda moram em Londrina: o grande Bernardo Pellegrini, que inclusive estava acabando de deixar o mandato de secretário de cultura - aliás, muito elogiado, Rodrigo Garcia Lopes, Eduardo Batistella, Maria Angélica, Marcos Scolari e conhecia pouco o Marcos Losnak (é uma das pessoas mais belas que já conheci na vida), e Maurício Arruda Mendonça por telefone - me desculpe se estou esquecendo de alguém - acabei de me lembrar da Joyce Candido, uma ótima cantora e uma possoa linda, nos conhecemos por telefone e assim que cheguei a substitui numa escola em suas aulas de ballet para piqueruchas.
Depois de dois meses eu estava estreando, juntamente com o músico Ronaldo Zemuner, a performance intitulada FRAGMENTOS, onde eu realizava várias cenas com textos dos poetas: Paulo Lemiski, Sylvia Plath, Neuza Pinheiro (2 poemas), Glauco Mattoso, Márcio Américo, Leonardo Leon, acredito que só esses. Em acordo com o Mauro, dono de um bar antigo em Londrina, montei o trabalho em sua enorme garagem que ficava ao lado de seu bar. E com o apoio da SERCOMTEL o espaço tornou-se por poucos meses "GARAGEM CUTURAL KOTOVELOS".
A coisa do snoker ou sinuca, estava virando moda, assim lucrativo, e o Maurão, como era chamado, não tutibiou, dividiu o espaço que me cedera e colocou logo três mesas enormes de sinuca. Vi que lá não seria o local ideal. Decidida a criar um espaço cultural, procurei a secretaria de cultura que me orientou participar de umas oficinas para criação de editais e me apresentou o edital de VILAS CULTURAIS. Existiam apenas duas ou três Vilas Culturais em Londrina, e foi nesta oficina que conheci o Marcelo, hoje responsável pela Vila Brasil, situada à Rua Brasil. Fiquei amiga do Marcelo. Tivemos uma discussão feia certa vez por eu "falar demais" (como ele me acusou) realmente, felo demais, mas quando tenho alguma coisa pra dizer digo aos próprios, isto é, aos interessados, e a príncipio críticas construtivas....Logo depois tudo foi esclarecido, fui vítima de fofocas e mentiras por um ser humano muito covarde etc e tal, que até hoje me é desconhecido ou quem sabe, estivera sempre perto de mim....enfim...depois das desculpas e perdões deixou sua Vila a disposição para meus projetos e voltamos a amizade.
Resolvi fazer o Fragmentos em outro lugar. Com ajuda do Tácito na técnica/luz e divulgação estreamos no RELICÁRIO. Foi muito bacana o trabalho neste bar. Eu me apresentava tipo1 h da manhã ou mais. O pessoal curtia muito, e fui mudando o trabalho, tinha que adaptá-lo ao novo espaço. Nisso alguns estudantes de jornalismo da UEL (Universidade Federal de Londrina) e de outras universidades e faculdades se interessaram por toda história e chegaram inclusive a fazer trabalhos e vídeos documentários.
Nessa época conheci melhor, pois já havia sido apresentada á ela em São Paulo, minha terra natal, Christine Vianna. Fiz alguns trabalhos para sua editora ATRITO ART e estávamos muito ligadas, nisto criamos o projeto ARTE EM MOVIMENTO. Fizemos o I, II e III. Foi um projeto belíssimo, mas por falta de verba não conseguiu se segurar. Produzíamos shows, shows de poesia e música, performances, exposições, lançamento de livros etc. Às pessoas curtiam muito, mas....
Fui convidada pelo Mestre Anande das Areias (Mestre de Capoeira), responsável pela Vila BERIMBAU DA CIDADANIA, para ser produtora e programadora de um espaço, dentro do seu espaço, e que veio a se chamar BERIMBAR UM PAPO ARTE (não gostei desse nome, mas o mestre é o mestre, como dizia Herman Schmitz), então criamos uma parceria e montamos o bar. O projeto foi um sucesso. O bar era muito bacana e com programação de primeira (sem modéstia nenhuma), estava acompanhada de amigos e parceiros de primeira. Tínhamos o dia do Blues, Jazz, Rock, gravamos o 107 blues ao vivo lá, enfim... eu também fazia show. Fiz homenagem para Leminski e Itamar Assumpção, criamos o cine clube, nossa!, foram muitas coisas, e principalmente dando oportunidade para um pessoal legal se apresentar, nessa época só podiam contar com o Valentino. Mas não levei adiante pois Anande na hora de fazermos o contrato queria (resumindo) que meu salário não ultrapassasse um certo valor. Havíamos acertado por porcentagem. Aconteceu que não esperávamos o lucro que estava dando: três vezes mais do imaginado, alías, eu imaginava e esperava, não estava deixando minha profissão de atriz de canto por pouco. E a intenção era juntar uma grana para meu espetáculo, o que não havia sido aprovado pela lei (também fez parte do acordo eu ter o espaço para ensaios). Achei muito injusto. Antes, cheguei fazer proposta de que se algum mês meu salário não chegasse ao número x ele completaria, e ele se negou, então, querido, nada feito, caí fora. Fiquei muito irritada na época porque havíamos combinado uma coisa e depois ele queria mudar. Ele me disse que eu não poderia ganhar mais que ele e Clarisse (uma pessoa maravilhosa que trabalhava com ele). Essas foram suas palavras. Detalhe, saí com uma mão na frente e outras atrás. Isto porque havíamos investido para montar a estrutura do bar, inclusive estoque de bebidas, aí tive que pagar os gastos ele ficou com o bar. Antes dos finais, tentou se redimir e tentar outro acordo, mas eu estava tomada de raiva, e com certeza não indevidamente. O bar depois de algum tempo fechado foi assumido pelo Nilson Faquir no meu posto. Um dia o Anande veio até mim para dizer que gostava muito de mim, do meu trabalho e que seu espaço sempre estaria aberto quando eu precisasse dele.
Eu havia feito alguns trabalhos de oficina com o Sesc de Londrina, e voltei então a trabalhar com eles. Entrei com outros projetos na lei de Fomento de Londrina mas novamente não foram aprovados. Também continuei a fazer trabalhos para a ATRITO ART e trabalhei por dois anos na produção do FESTIVAL DE LITERATURA DE LONDRINA. Inclusive me apresentando com performances. Trabalhei ao lado de Daianne Gonzalez, Luis Carlos Mumu e Herman Schmitz no espetáculo O HOMEM DA ESQUINA ROSADA um espetáculo belíssimo envolvendo Tango para a Mostra de Dança (que trouxe à Londrina especialistas de Tango no Brasil e da Argentina) realizei laboratório/preparação cênica com os 21 dançarinos do espetáculo.
A idéia de uma Vila Cultural não me saía da cabeça, principalmente depois da experiência com o Berimbar. Achei um lugar muito interessante na Av. Higienópolis, voltei a conversar com o Valdir (dentinho) da secretaria de cultura, estava decidida a fazer o projeto e ele me foi claro: sozinha não conseguirá ter o projeto aprovado. Acabei desistindo. Algum tempo depois, conversando com Christine Vianna decidimos fazer o projeto de Vila. Pra falar a verdade eu nem sabia se queria mais, estava meio deprimida, totalmente sem grana até pra uma breja, enfim, um dia liguei pra ela, coloquei minha situação: eu estava um pouco deprimida, a situação tava brava mesmo e disse que estava pensando em voltar para São Paulo. Falei para ela ir em frente. Ela disse que também estava cansada, outra pessoa poderia fazer o projeto para a lei e eu esperaria o resultado para assim depois ver o que fazer. Topei. Por sorte consegui mais oficinas no Sesc, meu pai como sempre me ajudando, o tempo foi passando.....e o projeto foi aprovado.
E aí, vai encarar? ela me perguntou com um sorriso largo. Eu estava emocionada, sabia que ía me foder por um longo tempo, mas não havia como não....Encarei. Somente começamos a receber 2 pra 3 meses depois, e eu recebi por quase um ano R$ 200,00 e ela R$ 400,00. Lógico sobrevivia com ajuda de meu pai.
Estavámos na Rua João Pessoa. Tínhamos acabado de visitar mais um dos vários galpões que não haviam nos agradado. Quase entrando na JK, avistei uma placa de alugam-se meio escondida, parecia um galpão.... a localidade era muito interessante, o espaço parecia bem grande porque tinha 2 portas de enrolar e uma porta enorme de ferro.
Comentei com Christine, ela respondeu que tinha certeza que aquele seria o galpão que o pessoal do Rock estaria alugando, havia escutado que seria naquela região, só poderia ser aquele.
Além da Vila do Cemitério, foram aprovados também Vila Kinoarte - projeto de cinema de Rodrigo Grota, Teatro do Oprimido e do pessoal do Rock. Fiquei meio intrigada e fui até o grande Paulão Rock Roll perguntar sobre o espaço. Ele foi categórico: não era aquele. Continuei inssistindo, comentei novamente com a Christine, ela concordou e então liguei na imobiliária para saber se havia alguém alugando e se poderíamos ver o espaço.
O cara da imobiliária foi logo dizendo: precisa de umas Reformas , nós: _ "temos dinheiro para reforma, pode ficar sossegado" - Quando a porta foi toda levantada e olhamos dentro, quase desmaiamos, mas foi amor a primeira vista por parte das duas. O lugar era perfeito, apesar de estar no momento completamente imperfeito. Algumas pessoas foram visitar antes dele ser alugado. Precisávamos de um parecer técnico, pois a grana do projeto era pouca, alías não cobriria nem um terço da reforma necessária, e de incentivos "força" de amigos né!!! seria uma impreitada!!!! assim como foi. Trabalhamos, muito, muito....eu trabalhei muito, muito...alguns voluntários amigos e até pessoas que entraram de gaiatos também trabalharam (muito obrigada pra todos vocês), não tinha hora, não tinha final de semana, não tinha feriado, nem dinheiro no bolso, mas estava feliz, muito feliz. E enfim aconteceu a inauguração da VILA CULTURAL CEMITÉRIOS DE AUTOMÓVEIS - Nome em homenagem ao gupo de teatro criado em Londrina por Mário Bortolotto, dramaturgo, diretor, ator (muitos o conhecem aqui em Sampa), mas é de Londrina. O Mário é um cara que admiro muito, trabalhei com ele e sem demagogia nenhuma, não preciso disto, é uma das pessoas mais interessantes, trabalhadoras, talentosas e honestas, que já conheci.
Logo após a inauguração da Vila me dei demissão da parceria. E tive que recorrer à justiça. Os motivos não daria pra falar assim, levaria mais um tanto do que já escrevi, mas resumindo não aguentei: egocentrismos, egoísmos, estrelismos, mentiras, fofocas, não reconhecimento do meu trabalho, ares de superioridades tomando neurasténicas proporções, e principalmente deslealdade, desonestidade e falta de respeito com minha pessoa e com meu trabalho. Nunca, jamais, me arrependerei, mesmo sendo taxada de desleal etc e tal. Ao contrário, com a mente de hoje mudaria o fato de ter feito acordo, teria levado até o final. Porque (aprendi com isso) quando as coisas chegam a esse ponto, é porque vai ficar pior, quando se é capaz de certas coisas, quando alguém se sente "ameaçado em seu poder" ou "desafiado em seu poder e "sabendo o quanto realmente deve á alguém" e esse alguém concorda com o mínimo, por necessidade, por não querer ir adiante com a história, por querer ser "boazinha".... é como se se igualasse a esse mínimo, e o que você aguenta: mentiras, depravação da sua pessoa, maldades, perda de amizades (muitas que não valem á pena mesmo, nesse aspecto até que foi bom) etc etc, esse mínimo não chega perto de pagar. E o pior é o quanto você trabalhou DE FATO. O tempo despendido, os projetos destruídos, enfim, perdas e danos.
Sobre esse lance das amizades, gente de caráter, personalidade, desprovida de interesses, com um pouco mais de conhecimento, e esclarecimentos, nem entra no mérito da história, porque cada qual tem seus "problemas" todos tentamos ser "gente" todos tentamos sobreviver e principalmente dentro de nossa profissão que já é tão difícil...enfim: todos temos motivos e razões. Não há porque escolher um lado. O juiz tá aí pra isto, e cada qual contará sua versão. Portanto jamais me arrependeria, e como disse, poderia ter sido mais justa comigo. Tem um filme muito bacana que acho que todos deverião assistir "O Povo Contra Larry" (editor da revista masculina Hustler, ele não desiste e ganha a causa do pastor bambamba da época, é muito interessante). Precisamos acreditar em nossas razões, em nossas convicções, no nosso senso de justiça, e tentar acreditar que ela realmente existe. Não importa o que façamos na vida. Importa sim, como.
Sem um real no bolso, literalmente: sem um real no bolso, isto logo após a inauguração, que inclusive bombou, e sem ao menos MEU dinheirinho que emprestei para a produção, dinheiro do Fragmentozinho, recebi, depois de dias e dias de brigas, algo em torno de R$70,00 e bem depois o dinheiro do Fragmentozinho.
Descansei dois dias e me voltei única e exclusivamente para meu projeto FRAGMENTOZINHO, que na época da produção da Vila fui praticamente impedida de trabalhar nele, foi uma das brigas (uma dassss). O que eu achava muito injusto porque minha parceira cuidava de sua editora, da produção do Festival de Literatura (cujo é diretora), da sua chácara, dos seus filhos e ainda dava aula.
Consegui apoio da SERCOMTEL, INSTITUTO BRASIL EUA, SONKEI, CONDOLONDRES etc. A peça estreou na Fundação Cultural de Ibiporã, depois realizei várias apresentações em Londrina com o apoio da secretaria de cultura que me dispensava alguns dias do mês no teatro Zaqueu de Melo, e transporte do cenário e figurinos, assim algumas escolas foram ver o espetáculo. Adoro essa peça, nunca me imagine fazendo teatro infantil. Faço dez cenas diferentes uso dez poemas tendo cada qual uma encenação: Paulo Leminki, Roseana Murray, Cecília Meireles (4 poemas), poemas não tão batidos de Vinícius de Moraes e uma livre adaptação minha. O cenário e figurino foram criados por Dorival Corrêa e Marcela Cruz. Com 80% de material e objetos reciclados, arrasaram.
Por motivos particulares, de família, tive que cancelar algumas apresentações da peça e voltar para SP. Aqui desde que cheguei dei aula de teatro por 7 meses no Palmeiras, escrevi um texto pra eles, montamos e foi apresentado. Estou montando a obra da escritora Roseana Murray "CAIXINHA DE MÚSICA", trabalhando na produção do meu projeto "FRAGEMNTO 0: RETALHOS DE SYLVIA PLATH", voltando com meu show de poesia e música e continuando a produção de Fragmentozinho.
No mais vivendo, estudando, fazendo oficinas, tentando.... e tentando cuidar do tratamento da Luci, minha irmã. Ah, e muito, muito feliz.
Agradeço todos amigos, amigos de verdade que fiz em Londrina, amigos passageiros e os amigos falsos (rsrsr), enfim, faz parte..... hoje já escrevi demais, um dia escrevo somente sobre vocês:
os amigos de verdade. Muitos são artistas maravilhosos , outros pessoas mais que comuns e maravilhosas como seu Joaquim "doidão" (rsrsr). Quero agradecer muito a rádio UEL particurlamente a Patrícia Zanin, Elias, Jersey Gogel, e todos da rádio. Aos jornalistas Nelson Sato, Ranulfo, Briguet. Todo pessoal da Cultura, à Sandra Jóia diretora do Museu de Arte Contemporânea de Londrina, que em TODOS meus projetos colocou-se à minha disposição, inclusive com suas palavras sempre certas e carinhosas, FERNANDO MARTINEZ (curador do museu) que além de um grande, grande amigo, foi sempre companheiro de idéias, de trabalho e dos meus bons e maus momentos..... e a Marcela, que não é mais amiga, já passou pra irmã.
Londrina está no meu coração, e eu me dispesso, ufa!!!!
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