segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sylvia Plath




ESPELHO



Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.

Tudo o que vejo engulo no mesmo momento

Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.

Não sou cruel, apenas verdadeiro —

O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.

O tempo todo medito do outro lado da parede.

Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele

Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele

[ falha.

Escuridão e faces nos separam mais e mais. Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça

[ sobre mim,

Buscando em minhas margens sua imagem

[ verdadeira.

Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.Vejo suas costas, e a reflito fielmente.

Me retribui com lágrimas e acenos.

Sou importante para ela. Ela vai e vem.A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.

Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha

Emerge em sua direção, dia a dia, como um [ peixe terrível.



Poema extraído de:


• Sylvia Plath Poemas

Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça

Ed. Iluminuras, 2a. ed., São Paulo, 1994


Nenhum comentário:

Postar um comentário