ESPELHO
Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele
[ falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais. Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça
[ sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem
[ verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um [ peixe terrível.
Poema extraído de:
• Sylvia Plath Poemas
Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
Ed. Iluminuras, 2a. ed., São Paulo, 1994
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