segunda-feira, 2 de novembro de 2009



À esquerda, Décio Bar nos tempos de política, em 1973. À direita, em 1962, com os poetas (da esq. para a dir.) Demétrio Ribeiro, Claudio Willer, Cassiano, Rodrigo de Haro, Eduardo, Roberto Piva e Marcos Ribeiro




..... Hoje feriado de finados, que lindo dia fez aqui em São Paulo não é mesmo? Fiquei pasma, em dia de finados sempre chove!!! ... vi depois num jornal da TV que hoje se quebrou uma regra de dez anos. Isto é, há dez anos não tínhamos um dia 02 do11 com sol brilhando o tempo todo.


Fui acordada ás sete da manhã por um bem-te-vi que vive nos arredores. Ele sempre canta de manhã. E canta muito alto. Mas hoje, não sei porque, ele estava mais inspirado do que em outros dias. E cantou muito, mas muito alto! Tive que me levantar, pois o show durou quase uma hora, com direito a uma pequena reprise depois de uns 15 minutos de descanso. O ruim é que ele só canta: " bem-te-vi, bem-te-vi" (risos).


Vi uma reportagem no Jornal Hoje, que em Londrina (tô com uma tamanha saudade!!!), as cigarras estão cantando tão alto que estão ultrapassando os sons das ruas: carros, buzinas, etc.


Tentei hoje me divertir e me distrair com dezenas de coisas. Mas o dia foi bem triste apesar do calor, do sol, das cantorias dos pássaros - mais precisamente nosso barítono Bem-te-vi - da reportagem sobre as cigarras, das músicas que ouvi, filmes, arrumação no ap. etc.


Ainda não me conformo (e acho que não conformarei nunca) com a perda de meu pai. Está difícil demais pra mim. Têm momentos em que nem acredito. Estou tentando ficar bem, mas sei que também faz parte tudo que estou (estamos todos) passando.


Agora pouco estava vendo umas coisas na net e achei este poeta, Décio Bar. Sinceramente não o conhecia. Li o poema que estou colando aqui, e depois curiosa fui saber sobre o autor. Fiquei pasma ao saber de sua morte prematura: Paulistano - 1943- 1991. Hoje também lia o livro " A vida, a época e a obra de Edgar Allan Poe" - e lógico, além dele, quantas e quantas mortes prematuras.


É... acho que não há regras para a vida.....



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Banquete de Rebeldia

(Décio Bar)



[TODAS AS MANHÃS]




Todas as manhãs —


mesmo as cavalgadas por astros

esporeados, as adormecidas em

noturnos abraços de serpentina,

as que vêm de naufrágios em

taças de magnésio, as que surgem

repentinas (aquelas em que percebemos

o crescimento da sombra das unhas) —

Todas as manhãs


uma tempestade sai do mar e eu

sou o seu oco:

... — e não, ainda não se dá o tempo

da clarineta, e nem a tesoura recortando

os calendários de sangue entrevê

a água de espelhos, e assim


Todas as manhãs

com o sol dentro do copo, sondo os

cabos submarinos em busca de avarias,
indago de algum telegrafista desertor

roído de nostalgia, e vasculhando os

céus I’m just a man in a crowd — poor

cloud of birds and angels; e assim vou

— na trilha, nos trilhos — de uma parede

ao muro que me limita, com os olhos

muito longe de mim


E neste ritual


em que não faltam túmulos de jornais,

flautas enlanguescidas por carência de valsa

compulsando corpos que o inverno

reduziu da medida de meus delírios; aliando-me a

querubins alucinados sedentos

de ambigüidades; valendo-me de um

telefone de aço para uso psicotrópico;

deitando cartas no leito das formas

que se pode adivinhar no bojo das

nuvens, ou na epiderme da pólvora


Neste ritual espero


da outra manhã

que me sirva à mesa no meu banquete

de rebeldia.







2 comentários:

  1. Oi, gostei muito desse seu espaço, confeço que não me lembro bem como descobri :) mas me lembro que foi depois do show da Estrela Leminski, desde então sempre dou um pulinho aqui, gosto das suas "sacadas", muito bom o texto, e a de hoje foi maravilhosa. Parabéns!

    Um grande abraço,
    Geraldo.

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  2. Oi Geraldo, obrigada. Apareça sempre!!!!

    um abraço pra ti também,

    Nancy

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