Li no blog de meu amigo, o jornalista, escritor e poeta Ademir Assunção algo que gostei muito. Vou colar aqui. Antes, quero deixar claro, que não sou contra a lei "Tolerância Zero". Tenho verdadeira repulsão para esse tipo de infração. Quanto a nova lei, na verdade nem pensei muito sobre o assunto, pois apesar de dirigir não tenho carro. Então, quando tomo umas brejas por aí (é só o que bebo mesmo), tenho que me locomover por táxi ou outra condução. Aqui no Rio muito na caminhada pois moro em Santa Teresa, e bem na cara da Lapa. Mas voltando ao que ele escreveu, gosto muito da sua coragem em falar de tantas porcarias que estão a nossa volta. Gosto dos alertas, enfim, tirem vocês suas próprias conclusões.
TOLERÂNCIA ZERO
É óbvio que não sou a favor que alguém encha a cara, pegue um carro e saia atropelando pessoas por aí. Mas também não sou idiota a ponto de aceitar a ideia de que todo mundo perde todos os reflexos com apenas duas latinhas de cerveja. Sei também que leis não são feitas individualmente. Mas me incomoda a paranoia geral que a tolerância zero no trânsito está criando. Me incomoda a sensação de que a cada dia nos tiram uma liberdade a mais. Parece que querem nos convencer que o melhor é ficar em casa, vendo uma televisão ruim e guardando todas as energias para trabalhar, trabalhar e trabalhar no dia seguinte. Ou se meter dentro de uma igreja e tratar de comprar um lugarzinho no céu pagando o dízimo terrestre. Parece que alguns querem as ruas desertas durante a noite. Parece que diversão virou coisa do capeta. Entenda bem: no meu dicionário, “diversão” não significa encher a cara, pegar um carro e sair atropelando pessoas por aí. Aí me dirão: mas é simples: se for sair a noite, vá de táxi. Mudanças de hábitos, me dizem. Agora vou ter que pensar assim: bom, hoje vou ao teatro (e não vou ver musical da Broadway nem peça do Falabella), depois, é possível que eu encontre uns amigos, é possível que eu vá para um bar com eles, é possível que eu beba umas e outras. Então: vou de táxi. Tudo planejadinho. Que maravilha! Se é assim, eu gostaria que houvesse também tolerância zero com música ruim, com televisão ruim, com picaretas que vendem lotes no céu. Falando em bom português-brasileiro: eu gostaria de tolerância zero com BBBs, Ivete Sangalo, Cláudia Leite, Bruno e Marrone, Funk da Cachorra, Silas Malafaia (é esse mesmo o nome?), Edir Macedo, e muitos etcéteras. Tolerância zero com educação ruim, com políticos, empresários e donos de jornais mentirosos, tolerância zero com quem transforma a arte, a ciência e a percepção do divino em meras mercadorias altamente lucrativas. Acho que tudo isso mata tanto, ou mais, muito mais, que o trânsito. É uma morte pior: tudo isso mata inteligência e mata percepções. Tudo isso vai transformando vivos em zumbis, em mortos-vivos. Aí alguém vai comentar assim na caixa de comentários logo abaixo: você está sendo preconceituoso. Você está sendo elitista. Há quem goste disso. E blábláblá. Como se estudar, pesquisar, perceber, pesar, escolher, fosse agora sinônimo de preconceito. Como se distinguir uma música de altíssima qualidade de uma música de péssima qualidade, por exemplo, feita para embalar o próximo verão, com alguma dancinha estúpida, repetida infinitas vezes na televisão e no rádio, fosse puro preconceito. Ok: eu direi: há quem goste de ser tapado. Eu não gosto. Pelo menos, tenho passado a minha vida toda tentando não ser tapado. Aí voltamos pra tolerância zero no trânsito. E o impasse continua. A sensação de que tudo em volta está piorando também.
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