sábado, 24 de abril de 2010



Uma CRÔNICA de IVANA ARRUDA LEITE. Editada em 15 de maio 2008.



CRÔNICAS DO LIVRO QUE NÃO MAIS EXISTIRÁ – 10



QUER ME VER?



Outro dia eu estava na casa de um amigo quando tocou o celular. A pessoa do outro lado, voz masculina, antes mesmo de dizer olá, boa tarde, como tem passado?, tascou uma pergunta à queima-roupa: “Quer me ver?”. Assim, sem a menor delicadeza nem educação. Aquilo certamente não era um convite. Estava mais pra intimação policial. Reconheci a voz. Era um sujeito com quem eu havia saído duas vezes e desapareceu depois do segundo encontro. Pois não é que depois de quase um ano de sumiço, o cara tem a cara de pau de invadir meu domingo maravilhoso e tentar estragá-lo?Respondi civilizadamente: “estou na casa de um amigo, me liga amanhã. Tudo bem com você?”. Mas quem disse que ele me ouvia? Ficava repetindo feito um papagaio: “quer me ver?”. Alto lá! As coisas não são bem assim.O cowboy abre a porta, pára no meio do saloon, olha pra mocinha, saca o revólver da cartucheira e faz um sinal com a cabeça: come on, baby. Onde estamos?Pense comigo. Quem ligou pra quem? Foi ele, não foi? Portanto, ele é o sujeito da oração, logo, o correto seria dizer: “eu quero te ver”. Mas não, ele preferiu jogar rapidinho o abacaxi no meu colo.Sou capaz de ver a cena: domingo à tarde, o cara com uma cerveja ao lado, sozinho em casa, vendo televisão, por que não?. O que ela teria de melhor pra fazer numa tarde de domingo do que vir correndo ao meu encontro? É muita pretensão, fala a verdade.E a história não terminou. Às 9 da noite, ele ligou de novo. “Você ainda está na rua? Quer me ver?”. Aí eu perdi a paciência e desliguei na cara dele. Cá entre nós, eu não iria ao seu encontro nem se ele me pedisse na maior fineza. O rapaz não tinha deixado boas recordações. E não é que ele conseguiu piorar ainda mais uma história que já era ruim? Tem gente que tem esse talento.






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