sexta-feira, 17 de julho de 2009


Alguns poemas do livro Nômada do poeta, tradutor e jornalista Rodrigo Garcia Lopes.


Mônadas


Faz sentido
esse gerânio em sua boca arrotando dígitos precisos
essa concha de céu enrugado cuja pérola é o sol
esse eco de destino que é resina nítida de escrito
esse beijo de linguagem que é seiva de vertigem
faz sentido

sentido, se faz
de desenho
e de teso
arco es-
tend-
ido
sobre um lago
seco.
Eco.
Resto de signo
ficado ígneo,
ignorante de céu,
cego de seu som,
istmo de tato, olfato, paladar, visão.

Faz sentido o não dito pelo dito,
ritmo & rito de sua própria desaparição,
testemunha ocular do caos
que se concentra na música do acaso,
casulo numa rosa fiberglass.


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NA PASSAGEM DOS CÉUS QUE FOGEM DE NÓS
Na imagem das coisas que retornam sem nós,
Na miragem dessa solidão, você aqui:

Na repetição das antigas sensações
Na fala a provocar o pensamento
Parecendo um passado que se dobra
Sobre essa polpa de presente:

Se a linguagem é nossa realidade
E coisas forem apenas palavras
Então nos restará apenas a veracidade -
Esse váculo que nos acua ao avançar.


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ALGO ME DIZ QUE MOLHAR
tem a ver com olhar

molliare, amolecer
em latim vulgar
substantivo mole como o cristal
deste globo por onde se olham
as plantas das retinas
tornando sólidas e só lidas
as coisas líquidas
o molhe no canto da praia
nuvem, cântaro, orquídea
no agora de sua órbita
súbita

por isso pôr os olhos de molho
por isso neles estampamos ocelos
por isso ele molha quando chora.




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