terça-feira, 28 de julho de 2009

De manhã fui ao supermercado. Já na rua, com minhas sacolas, senti a presença do sol. Imediatamente algo em mim mudou. Fiquei feliz, energizada, sei lá... e aí lembrei-me que estamos há dias sem um solzinho: chuva, chuva e chuva.... mas logo o sol se foi.

Lembrei-me de um poema do escritor FRANK O'HARA. Cheguei em casa e o procurei em minhas COYOTE (s) - pra quem não sabe, revista literária, já falei dela aqui.

Esse poema é muito legal. Tô colocando mais abaixo (só agora tive tempo).

Ironicamente o poeta faleceu atropelado por um buggy, tomando sol numa praia (na mesma do poema, praia de Fire Island) Louco isso né!!!

Frank O' hara - Biarritz, Spring 1960 (Photo: John Ashbery)

Alice Neel, "Frank O'Hara," 1960. Oil on canvas, National Portrait Gallery, Smithsonian Institution, Washington D.C., Gift of Hartley S. Neel.


O poema:

RELATO VERDADEIRO DE UMA CONVERSA COM O SOL EM FIRE ISLAND



O Sol me acordou esta manhã em alto
E bom som, "Ei! Há quinze minutos
estou tentando te acordar.
Não seja grosso, você é só o segundo poeta
Que escolhi pra falar tão pessoalmente
então
por que você não é mais atencioso? Se eu pudesse
te queimar pela janela eu te faria levantar.
Não posso ficar na área O dia todo".
"Desculpa, sol, fiquei
acordado até tarde falando com Hal".
Quando acordei o Maiakóvski ele foi
bem mais pontual", disse o Sol com petulância.
"A maioria das pessoas já acordam querendo
ver se vou dar o ar da minha graça".
Tentei me desculpar "Senti sua falta, ontem".
"Ah, está melhorando", o Sol falou. "Achei que você
não viria aqui fora" "Você deve estar pensando porque
cheguei juntinho assim"?
"É", eu disse, já começando a ficar todo quente
pensando se ele não estaria metendo fogo em mim
no fim das contas."Sendo franco, ô cara, queria dizer que
gosto da sua poesia. Vejo um monte de coisas por aí
e você até que não é mal. Pode não ser a coisa
mais importante sobre a terra, mas
você é diferente. Agora, já ouvi as pessoas dizerem
que você é maluco, eles sendo excessivamente
tranqüilos pro meu gosto, e outros poetas loucos
te acham um chato reaça. Eu não.
Continue mandando ver.

Faça como eu e não dê bola. Você vai perceber
que as pessoas sempre reclamam
do clima, sempre está quente ou frio demais,
escuro ou claro demais, dias curtos ou longos demais.
Se você fica sem aparecer um dia
já acham que você é preguiçoso ou já morreu.
Continue nesse pique, eu curto.
E não se preocupe com sua linhagem poética ou natural.
O Sol brilha sobre a selva, tá ligado?, sobre a tundra,
o mar, o gueto. Onde quer que você estivesse
eu já sabia e via você se movendo.
Estava te esperando pra começar a trabalhar.
E agora que você
está tirando os dias pra si, digamos,
mesmo que ninguém te leia a não ser eu,
não precisa ficar deprimido. Nem todo mundo
é capaz de olhar pra cima, nem mesmo pra mim.
Machuca Os olhos deles".
"Ai ai, Sol, estou tão agradecido!"
"Não há de quê e lembre-se que estou de olho. Pra mim é
mais fácil conversar daqui de fora.
Não sou obrigado a deslizar entre os prédios
até seu ouvido.
Sei do seu amor por Manhattan, mas
você devia olhar pra mim mais vezes.
E sempre
abrace as coisas, pessoas a terra céu
estrelas, como eu, livremente e com
um conveniente senso de espaço. Essa é sua
inclinação, conhecida no céu
e que você seguiria até o inferno, se
preciso, o que eu duvido.
Talvez nos falemos
na África, que eu também gosto especialmente.
Agora volte e durma,
Frank, e que eu possa deixar de despedida
um poeminha nessa sua cabeça".
"Sol, não vai não!", eu acordei enfim.
"Não, preciso ir, eles estão me chamando".
"Eles quem?"
O Sol se ergueu e disse "Um

dia desses você vai saber.
Estão te chamando também" . Sombrio, o sol se levantou,
e adormeci.




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