sábado, 8 de maio de 2010


Foto de o5 de março 2000.


Lawrence Ferlinghetti e o poeta cubano Pablo Armando Fernandez



Vida Infinda

(Lawrence F. tradução de Paulo Leminski)



Infinda a esplêndida vida do mundo
Infindos seus lindos seus vivos seus vívidos
seus lindos seres vivos
ouvindo e vendo pensando e sentindo
dançando e rindo soluçando e ganindo
por tardes infindas
infindas noites
de amor e êxtase júbilo e agonia
bebendo e queimando falando e cantando
em infindas Amsterdams
da existência
com infindos diálogos animados
sobre infindas xícaras de café
em clubes literários nas manhãs de chuva

Infindos filmes das ruas passando
em carros e trens de desejo
nas infindas trilhas da luz
E infindos cabelos longos dançando
ao som do punk rock e da disco
através de Vias Lácteas meia-noites
até os Paradisos da madrugada
falando e fumando e pensando
do tudo infindo da noite
no alvo leite da noite a luz da noite
Ah sim oh sim o infindo viver e amar
odiar e amar beijar e matar
Infinda a tique-taque respira tritura
máquina-carne da vida
gira-girando através do tempo
Infinda vida e infinda morte
infindo ar e infindo respirar



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Nunca transei com a beleza em minha vida



Nunca transei com a beleza em minha vida
Fiquei me repetindo
suas graças máximas


Nunca transei com a beleza em minha vida
mas quem sabe transei
fiquei me repetindo
a beleza nunca morremas fica à parte
entre os aborígenes
da arte
e muito acimados campos em que o amor batalha


É bem lá no alto disso tudo
é claro
Senta no mais raro trono
do templo
lá onde os diretores de arte se acham
para escolher as coisas.
dignas de imortalidade


Eles sim transaram com a beleza
a vida inteira
E provaram do orvalhomel
e beberam os vinhos do paraíso
assim eles sabem muito bem como
uma coisa linda é uma jóia
infinda e infinda
e como nunca nunca ainda
vai virar uma máquina

de perder dinheiro
como alguma coisa sem vida


Ah não eu não transei
espaços de beleza como esses
com medo de acordar de noite
com medo de não perceber
algum movimento que a beleza fez


Mesmo assim eu dormi com a beleza
no meu jeito desajeitado
e aprontei mil e umas
com a beleza na minha cama
e assim lá se vai um poema ou dois
e assim lá se vão dois poemas ou um
nesse mundo com cara de Bosch.




De Vida sem fim

Os melhores poemas de Ferlinghetti
Seleção de Ferlinghetti


Ed. Brasiliense, 1984







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