terça-feira, 1 de junho de 2010



Estávamos na Galeria Olido trabalhando. No momento líamos no livro Dicionário de Símbolos sobre Dança e Morte, quando o celular de Maura Baiocchi tocou. Ela não estava. Wolfgang saiu para atender. Voltou dizendo que era de um jornal, e nos deu a notícia da morte de Kazuo Ohno.


Tive o prazer mais que enorme de estar presente quando ele esteve no Brasil, pela última vez, trazido por Antunes Filho, e deu o ar de sua graça e arte, conversando com o público num teatro aqui em São Paulo, que agora não me lembro qual. Eu estive bem perto dele, e a impressão que tive, era que ele não andava, sim flutuava. Sei lá... ele parecia não ser de carne e osso. Mas era e como era!!!


Estudei Butoh com Flávia Pucci por um ano, o que pelo curto tempo, não é nada. Mas me serviu para muita coisa. Maura Baiocchi esteve ao lado de Kazuo por alguns anos. Ela é uma artista multi, mas o Butoh faz parte de sua formação, de sua expressão, lógico não tem como não.


Vejo por aí muitas pessoas tentando imitar Kazuo. Se contorcem, pintam a cara, pegam um flor, fazem terceiro olho, e dizem que estão dançando Butoh. E curioso, Maura nos disse semana passada que Kazuo não trabalhava em terceiro olho. Outros Buthoistas criaram.


Assim como criaram suas formas, personagens, estilos, e elementos figurais simbólicos e estéticos. O Butoh é uma dança bem diferente do que alguns imaginam por aí.


Ressaltei pra Maura sobre uma brasileira que assisti numa mostra de Butoh (organizada por ela em 1995) e que me chamou muito atenção. Foi o trabalho que mais me impressionou (e vieram vários artistas de fora, inclusive do Japão e já renomados). Maura disse: "Sim, Cecília, foi minha aluna e hoje dá aula na universidade de Brasília".


O Butoh nasceu como contestação, tem uma história linda, de garra, enfim....


Kazuo Ohno já estava com uma idade bem avançada... 103 anos não é para qualquer um. Sou apaixonada por sua arte. Desde que soube de sua morte, estou com a imagem dele dançando, de terno, naquele teatro onde conversou conosco.


Maura escreveu um livro muito interessante e bacana, que penso que todos atores e dançarinos deverião ler. E recomendo também para qualquer pessoa de qualquer profissão, ou sem profissão. Colocarei um trechinho aqui deste livro: "Butoh, A dança veredas d´alma", de Maura Baiocchi.



Lições de Butoh de Kazuo Ohno que valem para a vida


Kazuo não passa nenhuma técnica de exercício fechados ou pré-existentes, cada um tem que descobrir sua própria forma de expressão.


O que ele faz é indicar caminhos, instigando os indivíduos a sairem de suas posições cômodas e imitadoras.



- Livra- te de todas formas estabelecidas por ti mesmo ou por outrem.


- Mesmo que tu faças uma coisa muito bem, não és capaz de fazer tudo sempre bem.


- Tu não deves te orgulhar, tudo é muito inesperado.


- Deves prestar atenção nas coisas que fazes quando danças. É como desenhar uma linha na tela.


Dançar e pintar quadros é muito parecido.


- Um movimento deve incluir aspectos internos e externos. Todas as coisas da vida: dor, alegria, as profundezas da terra, as alturas do céu.


- Tu incorporas todas as experiências que adquires, mesmo que não saibas disso.


- Dançar é isto: quando te aproximas de uma flor, deves ter muito cuidado: comunica-te com ela, transforma-te nela. Tocar a outra vida como se fosse a própria vida.


- Procure fazer diferentemente do cotidiano


- O movimento muda a todo momento. Limpe sua alma e coração.


- Parados podemos nos expressar.


- Quando te movimentas, não procures expressar nada.





Obrigada Mestre!





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