sexta-feira, 22 de maio de 2009

(Lucy in The Sky - obra de Bernadette Emrick)


My Luci in the Sky, ou relatório íntimo.....

Muitas pessoas, digo, amigos e pessoas que de certa forma acompanharam meu trabalho, talvez não entendam porque ando tão distante do teatro. Quase não vou ver espetáculos e não estou em cartaz. Pois é... não estou parada, esse momento é muito especial pra mim e estou criando coisas... devagar.

Prefiri não entrar em cartaz com o Fragmentozinho, meu espetáculo infantil, decidi não arriscar porque não tenho patrocínio nem apoio nenhum aqui, e aí não preciso falar muito né. Mas vendo outras possibilidades.

Foi muito rápido, coisa de quinze dias pra organizar toda minha volta para São Paulo (minha terrinha). Eu estava muito bem em Londrina. Tive que cancelar espetáculos em outras cidades próximas e abandonar um projeto que com muito custo foi estabelecido, onde eu tinha o apoio da secretaria da cultura e agendamentos com escolas que estavam indo ao teatro, e acima de tudo, abandonar algo que estava sendo maravilhoso - as crianças curtiam de montão a peça, até debatíamos depois, era bacana... lindo.

Enfim, estou realizando outro projeto: cuidando da nossa querida Luci. Digo "nossa" porque muitos conheceram minha irmã. A Luci começou fazer teatro aos 13 anos. Participou de um grupo amador até os 17, se apresentando até no Municipal com o grupo. Depois entrou para a faculdade de jornalismo pela UNESP (Universidade Estadual de SP) e partiu para Bauru. Ficou lá 2 anos e não aguentou. Voltou para Sampa para fazer teatro. Seu sonho era entrar no CPT do Antunes. Ficou meio frustrada porque não passou no teste. Passou no INDAC - Instituto de Arte e Ciência. O Antunes era o diretor artístico. Depois eu também estudei no Indac, onde me formei.

O fato é que a Luci sempre foi muito bela. Bonita mesmo, e hiper talentosa e inteligente. Seu teste no Indac foi o melhor, era sempre muito elogiada e querida por todos. Com o diretor Ivan Cabral abriu com o ator Silvio (desculpe não lembro o nome completo) um dos prêmio APETESP no Municipal. No segundo ano de Indac fez um comercial pra Folha de SP onde ficou muito conhecida. Não podia andar nas ruas que as pessoas diziam "224 4000" - ela ficava muito sem graça.

Esta garota teve um problema em seguida. Abandonou o curso e não queria mais sair de casa. Aconteceram muitas outras coisas depois. A Luci está sob cuidados há anos. Mas nunca aceitou que tivesse que tomar medicação. Fingia que tomava e jogava fora (remédicos carríssimos inclusive), se recusava mesmo, o que fez com que piorasse sua situação.

Ultimamente ela estava sendo cuidada por uma senhora, mas brigavam demais. A senhora não a aguentou mais. Resumindo, ou eu voltava de Londrina para tentar cuidar dela, ou minha família a internaria, porque depois de anos e anos (mais de 10 anos), não tinham mais esperanças.

Voltei. A Luci ficou internada 20 dias pois era necessário para que forçadamente tomasse medicação. Depois disso cuido dela até hoje. Não é fácil. No início achei que eu não conseguiria, era difícil demais. Hoje ela está ótima. Parece um milagre. Mas esse milagre me custa tempo, paciência, correrias, muito aprendizado etc. etc. Têm dias que tenho vontade de fugir, sumir (risos) mas respiro fundo, converso comigo ou com alguém, e tudo fica resolvido.

Cuido de suas consultas com psiquiatras, psicólogos, horário dos remédios, terapeutas ocupacionais, suas atividades (arrumei um professor de violão, ela fez um tempo e depois parou, agora canta num coral). Cuido de sua alimentação (minha querida irmã não sabe fazer nada, nem miojo - achei que ela soubesse fazer miojo, porque ás vezes não consigo deixar algo pronto, também tenho que cuidar de minhas coisas, devagar, mas sem parar né- esse ano fiz oficina "acumputura poética Robert Wilson" com o Prof Marcos Bulhões, dança com a grande coreógrafa, professora e dançarina Holly Cravrel, fiz projeto pra lei Rouanet, já estou com o número do Pronac - patrocínio é outros quinhentos mas (rsrsr)... tô esperando o Madan musicar uns poemas da grande escritora Roseana Murray (aliás, madan eu e a Roseana estamos esperando (rsrs) brincadeira...o Madan tá trabalhando pra caramba...que bom...), acabei dois projetos que estava elaborando há mais de um ano e meio. No ano passado, assim que voltei, dei aula, dirigi meus alunos, escrevi uma peça pra eles, com eles.. enfim... fazendo... devagar...

MAS VOLTANDO, aí estava olhando ela fazer o miojo, reparei que ela não esperava a água ferver, e eu falei: você precisa esperar a água ferver pra colocar o miojo, e ela disse: pra quê? e virou as costas. Tá. Acho que fica do mesmo jeito né....

Estou feliz. estou realizando meu maior projeto. Amo minha irmã "demais"... sempre sofri muito por não poder fazer nada... Hoje me sinto QUASE realizada. Digo "quase" porque nunca podemos achar que já fizemos tudo - e no meu caso ainda tenho muito a fazer.


E... VALEU ZÉ RODRIX


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