segunda-feira, 23 de março de 2009

Samuel Beckett

A Revista de Teatro, publicada pela SBAT, em setembro/outubro de 2001, trouxe uma entrevista com Samuel Beckett. Sim, ele faleceu em 1989 aos 82 anos, mas foi homenageado com essa entrevista fictícia montada a partir de suas "econômicas" decalrações e acrescida de comentários de dois de seus mais conhecidos biógrafos, James Knowlson e Anthony Cronin.

Realizei um de seus textos, na ocasião inédito no Brasil (espetáculo "Rumores" - 3 peças curtas - em SP. temporada na Casa das Caldeiras). Na verdade, o diretor, Fernando Faria na época desenvolvia a tese de mestrado "O movimento pendular e a música no teatro de Samuel Beckett" (2004. 150 f. Dissertação Mestrado em Artes - USP, orientador Luiz Fernando Ramos), e "Footfalls" (a peça que eu interpretava, juntamente com Iva Inez (que não aparecia em cena, mas dava uma interpretação magnífica por trás das cortinas - era de arrepiar ouvir sua voz, sua respiração, andar...), como eu dizia, Footfalls faz parte da tese.

Voltando à entrevista, algumas passagens:


Já disseram os críticos - e eles dizem tantas coisas... - que o senhor vê o mundo habitado por palhaços. Trata-se de mero conceito pejorativo ou os escritores são, também, uns palhaços?

No mundo que aí está , somos todos palhaços. Uns nascem com o dom de rir, outros de chorar. Minha cara, creio eu, expressa essas nuances. Quem me vê, não sabe se enruguei porque ri demais ou chorei demais. Para mim, o riso não é apenas um momento de alegria. No desenho de um rosto, pode ser o traço da dissimulação e até do desagrado. Alguma coisa a lembrar o gorjeio do pássaro engaiolado. Ele canta ou chora sua aflição de prisioneiro?

É verdade que o senhor se desfez daquela grana preta (US$ 72.800) que recebeu ao ganhar o Prêmio Nobel de Literatura em 1969?

É verdade. Doei até o último centavo aos necessitados. Faz tempo que já me libertei das necessidades materiais.

Para muitos, Esperando Godot alterou o curso do teatro no séc XX. Foi traduzida em 12 idiomas e montada em tudo quanto é lugar, inclusive na prisão de San Quentin, EUA, por presidiários. Fale-nos um pouco sobre ela.

Não tenho o que dizer. Eu a escrevi em francês, em menos de quatro meses, e ela foi recusada por inúmeros produtores. Só foi montada graças ao trabalho incansável de Suzanne, que acabou levando-a a Roger Blin, um diretor de vanguardas. Suzanne levou a ele Godot e Eleuthéria (o primeiro texto teatral escrito por Beckett). Blin escolheu Godot porque tinha um elenco menor e a produção custaria menos. É apenas uma peça internacionalmente lúdica onde os personagens brincam e jogam o tempo todo. (Beckett pronuncia Godot com acento na primeira sílaba).

Nenhum comentário:

Postar um comentário