quinta-feira, 23 de abril de 2009

Carta aberta para alguém distante

Meu querido amigo Paiô. Estou escrevendo pra ti aqui no meu singelo blog. Tá lembrando deste lugar? É a lagoa de Curimatá. E pensar que nadei tanto aí !!! Peguei a foto na internet.

Você me deu um susto ontem. Eu não sabia que havia partido. Fiquei em Londrina 3 anos, e você partiu logo depois que fui. Neste período somente estive em SP duas vezes e bem corrido. Mas você partiu lá no Piauí, em Curimatá - naquele lugar que você amava tanto.

Derramei baldes de lágrimas, contando ontem e hoje. Como descobri? (rsrsr) foi engraçado, senti saudades de você esses dias. Achei aqueles desenhos que você fazia pra mim. Pensei em ligar, mas pensei que talvez estivesse casado (não eu não me casei ainda), mas ontem decidi ligar, queria te convidar pra uma breja. Pensei que mesmo que estivesse com alguém, não teria problema, terminamos o namoro e ficamos muito amigos ainda depois. Aí coloquei seu nome na internet. Foi engraçado porque eu iria direto na lista telefônica, mas sem querer joguei no google. Achei uma matéria linda sobre uma tal cartilha 21 do governo federal, entregue em Curimatá ("...tendo como eixo central: sustentabilidade compatibilizando a conservação ambiental a justiça social e o crescimento econômico"...) que maravilha....eu sabia que estava metido naquilo...lógico...você...que cheio de sonhos pegou teu piano e foi pro mato (sertão do Piauí) sem conhecer ninguém...pela música. E lá não aguentou ficar alheio aos problemas socias. (Estou chorando)...ah...me lembrei das vezes que estive lá, das viagens até Brasília - conheci a Esplanada dos Ministérios - almocei lá dentro, lembra? Esperar o dia todo pra pegar o ônibus pra Curimatá. Depois a viagem de horas infinitas com bodes, galinhas.... naquela estrada longa de terra .......

Aquela pobreza toda, as pessoas sem água pra beber, sem o que comer, lembra você empurrava mel e manga nas crianças e dizia:" desnutridos não vão ficar", sem energia elétrica (isso a gente até que gostava né! (rsrs) , aquelas casas de barro, crianças sem escola...e você os alfabetizava e também ensinava música...queria que a gente tivesse uma escola e que ensinasse arte, música e teatro (eles não tinham nem o que comer!!!), mas voltando....ao final da matéria li que a cartilha estava sendo dedicada a um professor, Samuel, e a você Paulo Kawall "ambos falecidos durante o projeto" - a coincidência era muito grande, ou eu que não queria adimitir? Liguei na casa do seu pai, ainda bem que foi a Maria que atendeu, e ela se lembrou de mim, fiquei feliz. Acho que eu não conseguiria falar com seu pai.

"Cemitério São Paulo - ahã".

Seu enorme coração não aguentou. Lembrei tantas coisas ontem. Lembrei de quando sua família passou aquele prédio enorme na Nove de Julho pra você cuidar. Os moradores não pagavam mais aluguel. Ao invés de você entrar com uma ação de despejo, mandou reformar todo o prédio e fez um acordo com eles deixando o aluguel bem baratinho. Tive muito orgulho de você.

Lembrei do seu apiário (lembra você correndo comigo no colo pra tirar minha roupa de astronauta porque uma abelha invadiu (rsrs), daquelas fotos que fiz no penhasco, nua com aquelas pedras e ossos - lembra daqueles ossos de gado? - jamais me esquecerei (me roubaram todas essas fotos!!!!), de quando subimos naquela montanha, de quando levava lanchinho pra mim no INDAC, de quando terminamos, eu morava com o Zé, e você ficou uns cinco dias dormindo enfrente a casa (rsrsr), da nossa viagem pra Campos do Jordão - aquele artista que morava na montanha (foi mágico), da viagem pra Ubatuba, das aulas de flauta - minha Yamaha fica aqui na sala. De vez em quando toco (rsrs) estou mentindo, raramente toco, esqueci muita coisa; melhor, quase tudo que aprendi. Fiquei alucinada por gaita, brinco mais com a gaita - vou guardar a flauta, presente seu, pro resto da vida, meu amigo. Faz tempo que partiu, mas como eu só soube ontem, pra mim é como se tivesse acontecido ontem. Com certeza já deve ter feito e está fazendo muito por aí.

Ainda não consegui parar de chorar, acredito que se fosse ao contrário, estaria acontecendo o mesmo com você. Meu grande amigo. Meu querido.

Aquela breja fica pra outro dia.

Nan.

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